sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A MULHER QUE PODE SER AQUELA DE IPANEMA

Vejo-a passando pela calçada da minha empresa. Não posso deixar de notá-la. Elegante, com vestes e bolsa que não chamam a atenção mas demonstram bom gosto pelo estilo que adota. Morena, bonita sim e com maquiagem discreta que realça ainda mais seu rosto. Simpática, trocamos sorrisos e olhares tímidos, um "Bom Dia" ou "Boa tarde" e ela segue caminhando com os passos firmes. Vai para o local de trabalho. Nestes dias de calor e sol intenso, usa óculos com lente escura, mas eu já vi seus olhos, negros e refletindo alegria e vivacidade que não consigo descrever. À medida que caminha pela calçada, deixa o ar impregnado com um doce perfume, que absorvo lentamente, como que pretendendo aprisionar sua imagem por mais tempo ainda.
A cena se repete todos os dias, mas nem sempre coincide a possibilidade de vê-la desfilando nesta imaginária passarela urbana, pois nossos horários podem não combinar. E, quando isso acontece, sinto falta de vê-la. Mas sei que ela já passou, porque o odor inconfundível do seu doce perfume permanece intacto no ar, como se me esperasse para dizer "Bom Dia" ou "Boa Tarde", seguidos da amável troca de sorrisos envergonhados. E, enquanto absorvo seu perfumo, tento imaginar qual roupa ela estaria usando. Seria o vestido florido? Seria a calça preta e a blusa verde e diáfana? Seria aquela bermuda bege clássica e a leve blusa rosa com alças? Ou hoje ela está com uma roupa mais despojada, a calça jeans e a blusa branca?
Uma curiosidade, não lembro dela usando brincos. Seus adereços também revelam discrição e bom gosto, pulseiras que não chamam atenção, mas em sua mão esquerda está sempre brilhando a reluzente aliança de ouro, alertando que é casada. Um detalhe que não pude deixar de registrar: quando não está olhando firme e com fixo no horizonte não tão distante, o celular está à mão, dedilhando quem sabe, mais uma mensagem na sua rede social.
É mulher de personalidade forte. Por que sei disso? Bem, o tempo de vida e a vivência como jornalista me proporcionaram vislumbrar um pouco da alma das pessoas. Aprendi no dia-a-dia a descobrir o íntimo de cada ser com quem cruzo. Dificilmente me engano.
Com ela não poderia ser diferente. De repente, ela passou a fazer parte da minha vida, sem querer transformou-se com sua simples passagem, na minha fonte positiva de energia. É necessário vê-la passando, para ter certeza que tudo está bem. Sei agora, quando está preocupada com as coisas rotineiras da sua vida. Sei que ela tem sonhos que ainda pretende materializá-los, muito embora alguns deles vão se tornando impossíveis. Coisas da vida, que não é só dela, agora. Imagino-a, caminhando calmamente, pés descalços na praia de areia úmida e muito limpa, veste branca e levemente tocada pela brisa marinha, sorriso enigmático nos lábios, como se fosse uma deusa grega. E sonhando, um sonho indecifrável.
Não sei porque, hoje, quando a vi passando pela minha calçada, mentalmente me veio à mente que pode ser ela uma das mulheres de Atenas, mas sei que é muito mais próxima daquela mulher de Ipanema, cantada por Vinicius. Se contar isso à ela, tenho certeza que vai sorrir, sorriso mais amplo que o de costume. Bem, como ela desfila todo dia na minha calçada - minha passarela urbana imaginária - nada melhor do que dedicar-lhe estes belos e musical versos, com permissão do Poetinha:
"Olha que coisa mais linda,
Mais cheia de graça,
É ela menina,
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar...
Moça do corpo dourado
Do sol de lpanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar....
Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha....
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa,
O mundo inteirinho se enche de graça,
E fica mais lindo....
Por causa do amor...."

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