quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

MAIS UM ESPETÁCULO DEPRIMENTE

Acabo de assistir a sessão especial do Senado Federal nesta Quarta-Feira, na qual foram eleitos os nomes que ocuparão os cargos na Mesa Diretora. Como já é do conhecimento geral, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito Presidente na sessão de Domingo, em 1º. de Fevereiro, conquistando 49 votos dos 81 senadores. Renan venceu a eleição com a clara interferência e explícito apoio da ocupante do Palácio do Planalto, a Presidente Dilma Rousseff e seu partido, o PT. A Presidência do Senado nas mãos de alguém confiável - ou submisso - para o Governo é importante do ponto de vista político. O nome de Renan Calheiros é como uma luva aos interesses palacianos. Mesmo com toda a pressão do Governo, a eleição mostrou que será difícil superar as barreiras da Oposição até o ano de 2016.
Para impedir que os Senadores oposicionistas tenham notória exposição na mídia, ocupando cargos na Mesa Diretora, uma manobra nada louvável foi aplicada na sessão de votação de hoje. Uma reunião prévia entre os 10 líderes dos partidos da base aliada com o Presidente Renan, excluiu os nomes da Oposição e a lista foi apresentada ao Plenário. Não se respeitou assim, o princípio da proporcionalidade partidária com representação no Senado, instrumento que é previsto na Constituição Federal e no Regimento Interno do Senado. Como um trator descontrolado, Renan ignorou todos os apelos de vários líderes de Oposição, para que fosse respeitada a proporcionalidade. Agiu egoisticamente, curvado aos interesses daqueles que apoiaram sua candidatura.
Ignorou justificativas feitas por vários Senadores como Aécio Neves, Ronaldo Caiado, Flexa Ribeiro, Antonio Carlos Valadares e outros. No embate discursivo com Aécio, o Presidente do Senado demonstrou claro desconforto e irritação. Ronaldo Caiado colocou na mesa as pedras da verdade do xadrez que elegeu Renan: o Governo – no caso a Presidente Dilma e o Partido dos Trabalhadores – precisa de Renan e dos aliados porque nuvens negras estão concentradas sobre o céu do País, diante das dificuldades gerais da economia pública, as denúncias de corrupção na Petrobras, a possibilidade de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal de dezenas de técnicos e políticos com assento nos palácios governamentais e aqueles com mandato na Câmara Federal e no Senado, em Governos e Assembléias Estaduais, por receberem propinas conforme descoberto pela Polícia Federal na esteira da investigação da Operação Lava Jato. Há quem garanta que essa investigação vai molhar com pingos grossos até a Presidente Dilma e o ex-Presidente Lula da Silva, beneficiários que seriam das propinas pagas pelas empreiteiras contratadas pela Petrobras.
O revolto mar de lama e óleo que avança com celeridade sobre os Palácios de Brasília preocupa sim. É por isso que optou-se pela tática de alijar nomes da Oposição na Mesa do Senado. Renan Calheiros não conseguiu explicar o motivo da reunião apenas com aqueles líderes que apoiaram sua eleição à Presidência do Senado, e também não respondeu ao Senador Ronaldo Caiado quando este disse que este servia a interesses outros, e não ao Parlamento brasileiro. Os líderes de Oposição acompanhados de seus Senadores abandonaram o Plenário, não participando da farsa da eleição da Mesa Diretora. Dos 49 nomes que integram a base de apoio a Renan, dois votaram contra, um se absteve e 46 aprovaram a chapa imposta.
Já assisti sessões constrangedoras na Câmara Federal e no Senado, mas a de hoje a tarde e noite foi deprimente. Senadores de cabeça baixa, olhares vagos perdidos no espaço ou mexendo em seus celulares e computadores demonstravam claramente que mesmo concordando com os argumentos da Oposição, não tinham como votar diferente. Todos aqueles senhores tinham consciência de que uma manobra política burlesca estava em curso e eles não tinham saída. Foram salvos com o benefício da votação secreta.
Afastando a Oposição, Renan mais uma vez serve aos interesses do Palácio do Planalto e resgata a fatura do apoio à sua eleição à Presidência do Senado. Ele mais do que ninguém, conhece as implicações do que está em curso neste momento. A fragilidade do Governo é claríssima. O apoio popular à Presidente Dilma que tem só 30 dias no exercício do seu segundo mandato não existe. Em Mato Grosso onde esteve na Terça Feira, foi vaiada sem dó, obrigando-a mudar seus itinerários. Cresce sob o embalo das ondas do mar de lama e óleo, o sentimento de que ela não pode continuar à frente do Governo. A voz das ruas pede cada vez mais seu impeachment, levada pela emoção e o desconforto com as medidas impopulares que a Presidente está adotando, contrariando suas falas na campanha eleitoral. Sindicatos e trabalhadores ensaiam abandoná-la à própria sorte, pois direitos trabalhistas estão sendo removidos. Donas de casa não suportam a carestia dos preços de alimentos. O empresariado está desestimulado diante da elevada carga tributária, a retração econômica, a escassez de energia elétrica, o descompasso da balança comercial e o preço exagerado dos combustíveis.
A Presidente Dilma está ás voltas com uma crise que não sabe como debelar. Foi obrigada a pedir o cargo para a Presidente da Petrobras e, horas depois, acabou surpreendida com o pedido de demissão coletiva de cinco Diretores da empresa estatal. No mercado internacional a credibilidade da Petrobras e por extensão a da própria Presidente Dilma, está em franco declínio. Nos Estados Unidos, grupos de investidores cobram judicialmente investigações nas contas da empresa, com suas ações desvalorizadas pela má gestão e a corrupção. O futuro dos dias para o Governo é neste momento, incerto. Num cenário infernal como este, com a Polícia Federal investigando nomes coroados da República, tudo pode acontecer. Assim, enquanto ainda é possível, manobras desesperadas precisam ser adotadas. Como a que passou pela eleição de Renan Calheiros para a Presidência do Senado e agora, a da exclusão da Oposição da Mesa Diretora.

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